domingo, 23 de junho de 2013

"Acordou" para o quê?

Senti necessidade de deixar minhas impressões sobre as manifestações dos últimos dias. Gostaria de deixar claro alguns pontos:

Não participei de nenhuma manifestação, formei minha opinião através das conversar que tive, com quem participou, das coisas que li, das coisas que vi na TV, dos posts no Facebook, Tumblr, Twitter e afins (principalmente dos dizeres dos cartazes).

Meu posicionamento político é de esquerda, sempre foi e creio que sempre será. Ele estará impresso nesse texto, porque ninguém consegue ser neutro ao ponto de não imprimir o seu ponto de vista naquilo que fala ou escreve.

Tendo isso claro, vamos ao meu ponto de vista:

Fiquei sabendo das manifestações por uma notícia que vi no Twitter, naquele momento elas aconteciam apenas em São Paulo e tinham como intuito protestar contra o aumento da passagem de ônibus. Vi que o MPL estava no comando e achei bacana a atitude dos paulistanos. O primeiro fato que me marcou foi a atitude da polícia que, naquele momento, agiu de forma violenta e repressiva contra os manifestantes, que até o momento não tinham cometido nenhum ato de vandalismo.

A atitude da PM de São Paulo me deixou chocada, não apenas eu, mas milhares de brasileiros. O resultado disso foi que no outro dia já estavam organizando manifestações no Brasil todo, através do Facebook. Fiquei muito interessada, mas não pude ir porque tinha uma prova na faculdade. Para mim, naquele momento, tinha ficado claro que: em São Paulo se protestava contra o aumento da passagem e contra a violência cometida pelos policiais e que no resto do Brasil também se protestava contra essa violência, em apoio aos manifestantes de São Paulo.

Tinha certeza que era isso, mas parece que não foi bem assim...

As pessoas foram as ruas com todas as revindicações possíveis: contra a corrupção, a favor da saúde, da educação, contra a Dilma (primeira coisa que me assustou), contra a Copa, contra a PEC 37, a favor da redução da maioridade penal (segunda coisa que me assustou), pelo fim do funk (sim, vi isso num cartaz e por mais que a pessoa pudesse estar zoando, para mim um protesto não é brincadeira), dentre outras revindicações que iam do mais superficial ao mais bizarro.

Quando comecei a ver as fotos dos manifestantes e, principalmente, dos cartazes, percebi qual era o perfil dos manifestantes: jovens da classe média. Brinquei com meu colega Brenno que esse era o protesto mais "Classe Média Sofre" que eu já tinha visto (vide cartaz abaixo). Mas mesmo assim não dei muita importância, não posso negar que pessoas conservadoras tem todo o direito de se manifestarem contra o que quiserem.


Até aí ok, já estava me posicionando contra as manifestações, mas ainda acreditava que poderia estar enganada. Eis que iniciaram os atos de vandalismo e a política, novamente, foi em cima dos manifestantes. Isso me deixou novamente indignada e me colocou de volta em cima do muro. Que tipo de protesto era aquele? Esperei mais notícias e informações para voltar a me posicionar... a mídia estava claramente ao lado dos policiais, criticando e generalizando o vandalismo. Já esperava por isso, nunca que a mídia ficaria a favor disso e lógico que ela iria generalizar, não é? Parece que não foi bem assim... 

Os dias seguiram e os protestos continuaram e com eles o vandalismo. Como todos sabemos, o valor da passagem de São Paulo foi reduzido e o de muitas outras cidades também. Mesmo assim, os protestos não terminaram... quais eram os motivos, quais eram as revindicações agora? Juro para vocês que não estava entendendo... sempre achei que pedir por mais educação, saúde e contra a corrupção é muito razoável, todo mundo quer uma educação e uma saúde melhor e todo mundo quer um mundo sem corrupção, acredito que não seja necessário sair as ruas para dizer isso. Para mim protestos sempre tiveram foco e pautas definidas: é para gritar contra o aumento da passagem? Ok! É para gritar contra o Estatuto do Nascituro? Ok! São assuntos definidos e que podem ser alcançados em curto prazo. 

As pessoas continuaram indo as ruas, continuaram com seus temas superficiais. Criaram hashtags como #OGiganteAcordou e o #OPovoAcordou, tags e afirmações que, na minha opinião, desprezam as lutas nos movimentos feministas, LGBT, de negros, MST, ambientais, sindicais, entre outros, que sempre estiveram nas ruas protestando e tentando fazer um país melhor. As manifestações não levaram em conta todos esses movimentos e negaram a presença dos partidos políticos, inclusive os de esquerda, que sempre estiveram presentes nessas lutas. Isso me deixou indignada, era a primeira vez que presenciava essa atitude em relação aos partidos. 


Mas, apesar de já estar muito estranho para mim, eu ainda não sabia o que estava por vir... A MÍDIA, aquela mídia que estava criticando e generalizando, a mesma mídia que falava que todos os manifestantes eram baderneiros, passou a apoiar o movimento (?). Da noite pro dia a baderna virou uma "linda manifestação dos jovens brasileiros, contra a corrupção". Isso me deixou muito mais encucada, mas serviu para perceber que o movimento tinha tomado um rumo conservador. O MPL deixou de convocar os manifestos, mas mesmo assim eles continuaram, quem estaria por trás disso agora? O Anonymous? Parece que o discurso do grupo também está cada vez mais conservador...  e a polícia, que antes estava agredindo os manifestantes, deixou de agir, até mesmo em alguns casos de vandalismo... 

Li muitos textos sobre as manifestações, textos de pessoas que tem a mesma visão que eu e isso serviu para embasar a minha opinião a respeito das manifestações. Não acredito que seja possível um golpe, nem militar, nem de Estado, o Brasil está muito visado internacionalmente e isso não seria bom para nossa imagem, até os conservadores sabem disso. Mesmo assim, não gosto do rumo que as manifestações tomaram... pode não haver um golpe, mas muitas pessoas estão sendo claramente manipuladas por um grupo que não tem cara e não tem nome, mas que conseguiu mudar o rumo e a ideologia das manifestações.

Depois de tudo isso, só me restam duas questões: Qual foi o Brasil que "acordou"? E para o que ele "acordou"?

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2 comentários:

  1. Jana gostei muito do seu texto, mesmo tendo partes que eu não concordo. Confesso que algumas coisas me fizeram pensar e analisar coisas que eu mesma vi nos dois dias que eu fui nessas manifestações. Sexta feira cheguei um pouco mais tarde do que o horário que estava marcado, o local combinado era a Rui Barbosa, quando cheguei lá, não tinha mais quase ninguém, só algumas pessoas esperando o ônibus e outras na porta da farmácia. Eu e a minha amiga demoramos para descobrir o que estava acontecendo e por uma informação que o próprio guarda de trânsito nos deu, descobrimos que a manifestação havia se dividido, grupos indo para todos os lados e teve até um que foi para a Arena (me diz pq ir para lá? então foram para lá e deu no que deu.). Encontramos um grupo saindo da Carlos Gomes indo em direção a Tiradentes e depois para o prédio da UFPR (pelo o que tudo indica estavam indo novamente para o Centro Cívico). Alguns adolescentes passavam pela a gente e consegui ouvir uma menina falando 'vamos logo pq se não a gente chega lá e já quebraram tudo', fiquei bem chocada com esse comentário pq a intenção de tudo não era uma manifestação pacífica?
    Depois de tudo o que vi e ouvi, contando com o debate que eu fui hoje, que na verdade era para ser uma manifestação mas poucos compareceram, percebi que as pessoas estão um pouco perdidas, são tantos os motivos para manifestar que elas não sabem por onde começar. Acho que antes de sairmos as ruas, devemos organizar bem os movimentos, decidir qual será o motivo principal e principalmente qual será a rota, pq se não acontece que nem sexta. Além de que, todos já perceberam que se a manifestação acabar no Palácio, na prefeitura ou por qualquer prédio ali do Centro Cívico, vai acabar em quebra pau.

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  2. Concordo totalmente com você, Ni! A falta de foco foi um dos principais motivos para que o movimento chegasse no ponto que chegou.

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