sexta-feira, 6 de março de 2015

Mais um 8 de março... o que temos para comemorar?


Eis que chega mais um 8 de março... a televisão, as lojas e as ruas já estão cheias de mensagens “parabenizando” as mulheres pelo seu dia. O comércio aposta nas promoções de anticoncepcionais, cosméticos e roupas. E os homens... ah os homens! Eles mandam flores e compram chocolates para suas esposas, namoradas, mães e irmãs.

Lindo, não?
NÃO!

Todos sabemos a origem desse 8 de março, do Dia Internacional da Mulher. Sabemos que em 1857, em uma fábrica têxtil de Nova Iorque, operárias uniram-se e fizeram uma grande greve, reivindicando melhores condições de trabalho, equiparação de salários e a diminuição da carga horária. Temos conhecimento também de como essas mulheres foram tratadas, como foram duramente reprimidas, trancadas dentro da fábrica onde trabalhavam, que posteriormente foi incendiada. E todos nós sabemos como essa história de luta por direitos terminou: com, aproximadamente, 130 operárias mortas. Todos nós sabemos de tudo isso, aprendemos na escola ou temos conhecimento por outras fontes, mas poucos de nós LEMBRAMOS dessa história. A mídia e as grandes empresas não fazem questão de que lembremos da origem e do significado do Dia Internacional da Mulher. Os homens não procuram refletir sobre o porquê dessa data e a situação da mulher atualmente. As pessoas não se importam! Menos... Sim! Menos nós, as feministas “chatas”.

Voltando ao ano de 2015, começamos a nos perguntar: o que temos para comemorar? A mulher, na sociedade brasileira atual, já é plenamente respeitada e tem todos os seus direitos garantidos, e pode esperar de um dia como esse apenas flores, promoções e chocolates? Convenhamos que não... 
 
Num país onde uma mulher é estuprada a cada 12 segundos, onde não temos segurança para andar na rua com a roupa que queremos, no horário que bem entendemos, onde somos violentadas e desrespeitadas dentro e fora de casa, onde homens acreditam que estão fazendo um elogio às mulheres quando gritam “gata”, “gostosa”, “queria te comer todinha”, entre outras coisas piores. Num país que não garante às mulheres nem mesmo o direito ao seu próprio corpo, condenando aquelas que optam por abortar, julgando-as e, em alguns casos, tornando-as criminosas, onde mulheres ainda recebem menos e trabalham mais que os homens, onde são objetificadas e sexualizadas, utilizadas como “iscas” para vender produtos e satisfazer interesses masculinos. Num país como esse, as mulheres que vivem nele não têm o que comemorar! 

  
Diante de tudo isso, querida mídia, queridas empresas, querido comércio e queridos homens, não pensem que vocês podem nos comprar com seus descontos e seus produtos, com elogios e mensagens, com flores e bombons. Nós não nos contentamos com uma sociedade que usa um dia do ano - e desconsidera todo o seu significado de origem - para nos “agradar”, mas que nos maltrata e nos desrespeita durando os outros 364 dias. Não pensem que vocês conseguirão nos calar e nos diminuir!

Nesse 08 de março e em todos os outros dias do ano, enquanto existirem mulheres tendo seus direitos negados, NÓS NÃO TEREMOS O QUE COMEMORAR!

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*Por mais que eu também não tenha o que comemorar nesse dia, eu gostaria de deixar meu agradecimento e meu reconhecimento aos grupos feministas que participo e às mulheres maravilhosas que conheci nos últimos anos. Se existe um pouco de felicidade e esperança nesse 08 de março, esses sentimentos se devem a esses espaços e a essas mulheres que lutam por seus direitos e pelo bem estar de todas. As rivalidades sendo rompidas, o reconhecimento de que somos irmãs e precisamos nos unir e a sororidade não me deixam perder a esperança de um mundo melhor para todas nós!

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Referências: