Eis que chega mais um 8
de março... a televisão, as lojas e as ruas já estão cheias de
mensagens “parabenizando” as mulheres pelo seu dia. O comércio
aposta nas promoções de anticoncepcionais, cosméticos e roupas. E
os homens... ah os homens! Eles mandam flores e compram chocolates
para suas esposas, namoradas, mães e irmãs.
Lindo, não?
NÃO!
Todos sabemos a origem
desse 8 de março, do Dia Internacional da Mulher. Sabemos que em
1857, em uma fábrica têxtil de Nova Iorque, operárias uniram-se e
fizeram uma grande greve, reivindicando melhores condições de
trabalho, equiparação de salários e a diminuição da carga
horária. Temos conhecimento também de como essas mulheres foram
tratadas, como foram duramente reprimidas, trancadas dentro da
fábrica onde trabalhavam, que posteriormente foi incendiada. E todos
nós sabemos como essa história de luta por direitos terminou: com,
aproximadamente, 130 operárias mortas. Todos nós sabemos de tudo
isso, aprendemos na escola ou temos conhecimento por outras fontes,
mas poucos de nós LEMBRAMOS dessa história. A mídia e as grandes
empresas não fazem questão de que lembremos da origem e do
significado do Dia Internacional da Mulher. Os homens não procuram
refletir sobre o porquê dessa data e a situação da mulher
atualmente. As pessoas não se importam! Menos... Sim! Menos nós, as
feministas “chatas”.
Voltando ao ano de 2015,
começamos a nos perguntar: o que temos para comemorar? A mulher, na
sociedade brasileira atual, já é plenamente respeitada e tem todos
os seus direitos garantidos, e pode esperar de um dia como esse
apenas flores, promoções e chocolates? Convenhamos que não...
Num país onde uma
mulher é estuprada a cada 12 segundos, onde não temos segurança
para andar na rua com a roupa que queremos, no horário que bem
entendemos, onde somos violentadas e desrespeitadas dentro e fora de
casa, onde homens acreditam que estão fazendo um elogio às mulheres
quando gritam “gata”, “gostosa”, “queria te comer todinha”,
entre outras coisas piores. Num país que não garante às mulheres
nem mesmo o direito ao seu próprio corpo, condenando aquelas que
optam por abortar, julgando-as e, em alguns casos, tornando-as
criminosas, onde mulheres ainda recebem menos e trabalham mais que os
homens, onde são objetificadas e sexualizadas, utilizadas como
“iscas” para vender produtos e satisfazer interesses masculinos.
Num país como esse, as mulheres que vivem nele não têm o que
comemorar!
Diante de tudo isso,
querida mídia, queridas empresas, querido comércio e queridos
homens, não pensem que vocês podem nos comprar com seus descontos e
seus produtos, com elogios e mensagens, com flores e bombons. Nós
não nos contentamos com uma sociedade que usa um dia do ano - e
desconsidera todo o seu significado de origem - para nos “agradar”,
mas que nos maltrata e nos desrespeita durando os outros 364 dias.
Não pensem que vocês conseguirão nos calar e nos diminuir!
Nesse 08 de março e em
todos os outros dias do ano, enquanto existirem mulheres tendo seus
direitos negados, NÓS NÃO TEREMOS O QUE COMEMORAR!
_
*Por mais que eu também
não tenha o que comemorar nesse dia, eu gostaria de deixar meu
agradecimento e meu reconhecimento aos grupos feministas que
participo e às mulheres maravilhosas que conheci nos últimos anos.
Se existe um pouco de felicidade e esperança nesse 08 de março,
esses sentimentos se devem a esses espaços e a essas mulheres que
lutam por seus direitos e pelo bem estar de todas. As rivalidades
sendo rompidas, o reconhecimento de que somos irmãs e precisamos nos
unir e a sororidade não me deixam perder a esperança de um mundo
melhor para todas nós!
_
Referências:
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