domingo, 30 de junho de 2013

ANDRESSEN, Sophia de Mello Breyner


Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.


domingo, 23 de junho de 2013

"Acordou" para o quê?

Senti necessidade de deixar minhas impressões sobre as manifestações dos últimos dias. Gostaria de deixar claro alguns pontos:

Não participei de nenhuma manifestação, formei minha opinião através das conversar que tive, com quem participou, das coisas que li, das coisas que vi na TV, dos posts no Facebook, Tumblr, Twitter e afins (principalmente dos dizeres dos cartazes).

Meu posicionamento político é de esquerda, sempre foi e creio que sempre será. Ele estará impresso nesse texto, porque ninguém consegue ser neutro ao ponto de não imprimir o seu ponto de vista naquilo que fala ou escreve.

Tendo isso claro, vamos ao meu ponto de vista:

Fiquei sabendo das manifestações por uma notícia que vi no Twitter, naquele momento elas aconteciam apenas em São Paulo e tinham como intuito protestar contra o aumento da passagem de ônibus. Vi que o MPL estava no comando e achei bacana a atitude dos paulistanos. O primeiro fato que me marcou foi a atitude da polícia que, naquele momento, agiu de forma violenta e repressiva contra os manifestantes, que até o momento não tinham cometido nenhum ato de vandalismo.

A atitude da PM de São Paulo me deixou chocada, não apenas eu, mas milhares de brasileiros. O resultado disso foi que no outro dia já estavam organizando manifestações no Brasil todo, através do Facebook. Fiquei muito interessada, mas não pude ir porque tinha uma prova na faculdade. Para mim, naquele momento, tinha ficado claro que: em São Paulo se protestava contra o aumento da passagem e contra a violência cometida pelos policiais e que no resto do Brasil também se protestava contra essa violência, em apoio aos manifestantes de São Paulo.

Tinha certeza que era isso, mas parece que não foi bem assim...

As pessoas foram as ruas com todas as revindicações possíveis: contra a corrupção, a favor da saúde, da educação, contra a Dilma (primeira coisa que me assustou), contra a Copa, contra a PEC 37, a favor da redução da maioridade penal (segunda coisa que me assustou), pelo fim do funk (sim, vi isso num cartaz e por mais que a pessoa pudesse estar zoando, para mim um protesto não é brincadeira), dentre outras revindicações que iam do mais superficial ao mais bizarro.

Quando comecei a ver as fotos dos manifestantes e, principalmente, dos cartazes, percebi qual era o perfil dos manifestantes: jovens da classe média. Brinquei com meu colega Brenno que esse era o protesto mais "Classe Média Sofre" que eu já tinha visto (vide cartaz abaixo). Mas mesmo assim não dei muita importância, não posso negar que pessoas conservadoras tem todo o direito de se manifestarem contra o que quiserem.


Até aí ok, já estava me posicionando contra as manifestações, mas ainda acreditava que poderia estar enganada. Eis que iniciaram os atos de vandalismo e a política, novamente, foi em cima dos manifestantes. Isso me deixou novamente indignada e me colocou de volta em cima do muro. Que tipo de protesto era aquele? Esperei mais notícias e informações para voltar a me posicionar... a mídia estava claramente ao lado dos policiais, criticando e generalizando o vandalismo. Já esperava por isso, nunca que a mídia ficaria a favor disso e lógico que ela iria generalizar, não é? Parece que não foi bem assim... 

Os dias seguiram e os protestos continuaram e com eles o vandalismo. Como todos sabemos, o valor da passagem de São Paulo foi reduzido e o de muitas outras cidades também. Mesmo assim, os protestos não terminaram... quais eram os motivos, quais eram as revindicações agora? Juro para vocês que não estava entendendo... sempre achei que pedir por mais educação, saúde e contra a corrupção é muito razoável, todo mundo quer uma educação e uma saúde melhor e todo mundo quer um mundo sem corrupção, acredito que não seja necessário sair as ruas para dizer isso. Para mim protestos sempre tiveram foco e pautas definidas: é para gritar contra o aumento da passagem? Ok! É para gritar contra o Estatuto do Nascituro? Ok! São assuntos definidos e que podem ser alcançados em curto prazo. 

As pessoas continuaram indo as ruas, continuaram com seus temas superficiais. Criaram hashtags como #OGiganteAcordou e o #OPovoAcordou, tags e afirmações que, na minha opinião, desprezam as lutas nos movimentos feministas, LGBT, de negros, MST, ambientais, sindicais, entre outros, que sempre estiveram nas ruas protestando e tentando fazer um país melhor. As manifestações não levaram em conta todos esses movimentos e negaram a presença dos partidos políticos, inclusive os de esquerda, que sempre estiveram presentes nessas lutas. Isso me deixou indignada, era a primeira vez que presenciava essa atitude em relação aos partidos. 


Mas, apesar de já estar muito estranho para mim, eu ainda não sabia o que estava por vir... A MÍDIA, aquela mídia que estava criticando e generalizando, a mesma mídia que falava que todos os manifestantes eram baderneiros, passou a apoiar o movimento (?). Da noite pro dia a baderna virou uma "linda manifestação dos jovens brasileiros, contra a corrupção". Isso me deixou muito mais encucada, mas serviu para perceber que o movimento tinha tomado um rumo conservador. O MPL deixou de convocar os manifestos, mas mesmo assim eles continuaram, quem estaria por trás disso agora? O Anonymous? Parece que o discurso do grupo também está cada vez mais conservador...  e a polícia, que antes estava agredindo os manifestantes, deixou de agir, até mesmo em alguns casos de vandalismo... 

Li muitos textos sobre as manifestações, textos de pessoas que tem a mesma visão que eu e isso serviu para embasar a minha opinião a respeito das manifestações. Não acredito que seja possível um golpe, nem militar, nem de Estado, o Brasil está muito visado internacionalmente e isso não seria bom para nossa imagem, até os conservadores sabem disso. Mesmo assim, não gosto do rumo que as manifestações tomaram... pode não haver um golpe, mas muitas pessoas estão sendo claramente manipuladas por um grupo que não tem cara e não tem nome, mas que conseguiu mudar o rumo e a ideologia das manifestações.

Depois de tudo isso, só me restam duas questões: Qual foi o Brasil que "acordou"? E para o que ele "acordou"?

Indicações:








sexta-feira, 7 de junho de 2013

"Bolsa Estupro" e a minha indignação!

A maioria de vocês já deve saber o que é a famosa "Bolsa Estupro", projeto que permite que as crianças, nascidas de mulheres vitimas de violência sexual, recebam pensão dos seus respectivos "pais" estupradores ou do Estado, caso esse não seja encontrado. (Para maiores informações: http://revistaepoca.globo.com/Brasil/noticia/2013/06/comissao-da-camara-aprova-projeto-que-garante-pensao-crianca-nascida-de-violencia-sexual.html)

Aí você pensa: que legal, esse é um projeto que vai garantir direitos a mulher! NÃO! Esse é um projeto que tira muitos direitos, entre eles o da liberdade e o da não discriminação, todos inscritos na Constituição Federal. Esse é um projeto que prevê o retrocesso, tanto nas questões relacionadas ao aborto, quanto a autonomia da mulher. Esse é um projeto que submete a mulher a ter uma gravidez indesejada, alegando que ela e a criança serão amparadas pelo poder público. 

Uma relação entre mãe e filh@ se constitui apenas de comida e dinheiro? NÃO! Essa relação deve ser constituída de amor, de carinho, de apego... nenhum desses sentimentos está presente, quando estamos falando de ESTUPRO! Qual é a lógica de obrigar uma mulher a carregar e parir uma criança que é fruto do MEDO, que é fruto da VIOLÊNCIA, que é fruto da VERGONHA (porque, infelizmente, mulheres que são estupradas ainda sentem vergonha por isso), para que carregar e parir uma criança que é e será o SÍMBOLO de toda violência sofrida pela mulher? Eu não entendo... isso chega a ser desumano!




Eu li um texto no Blog do Esmael (http://www.esmaelmorais.com.br/2013/06/bolsa-estupro-e-retorno-a-era-medieval-afirma-uniao-brasileira-de-mulheres/#comment-98045) muito bacana, falando sobre como os movimentos feministas estão se articulando a respeito desse projeto. Infelizmente eu caí na onda de responder um comentário (sempre evito isso, porque sei que os comentários normalmente não tem muito conteúdo) e lógico: acabei revoltada com eles, mas por um lado foi bom, fiquei com mais vontade de escrever aqui!

No post do Esmael eu vi homens comentando que as mulheres que criticam esse projeto são retardadas e que deveriam ficar contentes pela medida, pode isso produção? Eu me pergunto: se a mulher de um desses homens fosse estuprada, eles gostariam de criar o filho do estuprador? Se a filha de um deles fosse violentada, eles se sentiram bem sendo avôs do filho do estuprador? Certamente que não! Mas as pessoas nunca se colocam no lugar dos outros, nunca procuram entender como a vítima se sente. 

Outros comentários falam sobre a adoção, "a atitude simples e descomplicada de dar uma criança para adoção e o processo, mais simples ainda, de adoção dessa criança" (as vezes eu acho que essas pessoas não vivem no mesmo mundo que eu, vivem num mundo mágico e perfeito). Essas mesmas pessoas que falam "é só dar a criança para adoção, assim ela vai ter pais que amam ela", são as mesma que julgam as mulheres que tomam essa atitude. O processo de adoção não é tão simples, como muitos pensam, sem contar que os casais que procuram a adoção ainda seguem o padrão discriminatório: recém nascidos ou no máximo bebes, brancos e de olhos claros. As casas de acolhimento já estão cheias e cheias de crianças que não seguem esse perfil, crianças que serão "chutadas" da casa onde vivem, depois que fizerem 18 anos ou que tentarão fugir desses lugares para tentarem uma vida diferente nas ruas. Nós mesmos estamos criando nossos futuros bandidos, traficantes e prostitutas. Não por culpa deles, que foram colocados no mundo de qualquer maneira e não tiveram oportunidades na vida, mas culpa NOSSA, exclusivamente NOSSA

Sem contar que uma mulher que é submetida a uma gravidez dessas entra em depressão, em quase 100% dos casos e todo o sofrimento sentido pela mulher é passado para o bebe, desde a barriga da mãe e essas crianças acabam nascendo com transtornos mentais, com transtornos de conduta, entre outros, o que dificulta ainda mais o processo de adoção.

Nem entro em questão com os comentários religiosos que vi, cada um tem suas crenças, mas o Estado é LAICO ou pelo menos deveria ser. O Estado não segue religiões, o Estado não pode ser dominado por elas, as decisões referentes a DIREITOS CIVIS não podem ter embasamento religioso. Nem todos seguem a mesma religião, nem todos tem religião e nem todos acreditam em Deus, mas todos devem ter os mesmos direitos!

Nós vivemos num mundo com mais de 7 bilhões de pessoas, um mundo caótico e violento, que vai de mal a pior, pra quê trazer mais pessoas para o mundo, dessa maneira, apenas para sofrerem?

Sugestão de texto: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/01/descricao-horror-voce-sabe-e-um-estupro.html